Wirginia Woolf e Cenas Londrinhas – Uma imersão no fluxo constante das cidades
Eu me encontrei com Cenas Londrinas, de Wirginia Woolf, enquanto buscava algo leve para ler. Queria descansar a mente, passear sem pressa entre as páginas de um pequeno livro. E foi o que aconteceu. Wirginia nos brinda com uma escrita leve e extremamente eficaz para retratar as cenas urbanas da Londres de seu tempo. É possível sentir-se rapidamente transportado para a atmosfera da cidade, que ganha um olhar descritivo e cheio de detalhes, sem jamais tornar-se cansativo. Por fim, nós nos deparamos com o fluxo de gente, os sons, as ideias e até mesmo o cheio que as imagens narradas permitem nos despertar.
O passeio começa, enfim, nas docas de Londres, passa pelos comércios tumultuados de Oxfor Street e nos convida a conhecer endereços de grandes homens daquele tempo. A imponência das grandes catedrais salta diante de nossos olhos. “Algo de seu esplendo reside simplesmente na vastidão, na serenidade incolor”. O livro de Wirginia Woolf é um prato cheio para quem busca uma pequena viagem entre as páginas. Acredito que a obra seja, simultaneamente, uma ótima pedida para autores que queiram aprender um pouco mais da descrição eficaz para criar grandes imagens de maneira leve, nada enfadonha.
O fluxo constante de Wirginia Woolf
O livro é pequenino, enfim, 91 páginas de puro deleite. Um mergulho bom para aliviar a mente do caos e se deleitar com a descoberta de novos caminhos e paisagens urbanas. É no fluxo constante da cidade que surgem grande parte das histórias, no encontro despretensioso entre essa quantidade de gente quase despercebida que as ocupa. Durante a leitura, lembro-me frequentemente de minha própria relação com a cidade em que vivo. Por fim, creio que Wirginia Woolf me desperta os sentidos através das palavras
Queremos encontrar o ápice e a decadência de outras cidades, entender o que aproxima e afasta sua gente. Queremos estufar nosso peito cheio de dúvida para chegar mais longe. Simultaneamente, esbarrar em rostos desconhecidos, entender se este ou aquele pedaço de chão lhes causa repulsa ou prazer. Há um imenso arsenal de possibilidades na relação de cada indivíduo com a sua própria cidade. Os olhos saltam em prazer ou dúvida frente aos edifícios imensos e às infinitas fileiras de janelas. Construímos palcos, teatros, salas de dança, grafitamos muros e alimentamos museus. Queremos manter intacta a história de nossos dias e enaltecer o cotidiano que se perde entre a multidão dos dias.
Sobre a autora – Wirginia Woolf
Adeline Virginia Woolf, nascida Adeline Virginia Stephen, foi uma escritora, ensaísta e editora britânica, conhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo. Estreou-se na literatura em 1915 com o romance The Voyage Out, que abriu o caminho para a sua carreira como escritora e uma série de obras notáveis. Por fim, Woolf foi membro do Grupo de Bloomsbury e desempenhou um papel de significância dentro da sociedade literária londrina durante o período entre guerras. Woolf é considerada uma grande inovadora do idioma inglês. Nos seus trabalhos experimentou o fluxo de consciência e a psicologia íntima, bem como tramas emocionais dos seus personagens.
“Lá nas docas veem-se as coisas em sua crueza, seu volume, sua enormidade. Aqui, em Oxford Street, elas se mostram refinadas e transformadas. Os enormes barris de tabaco úmido foram enrolados em inúmeros cigarros bem-feitos envoltos em papel prateado. Os corpulentos fardos de lã estão tecidos em forma de finos coletes e meias macias. A gordura da lã espessa da ovelha tornou-se creme perfumado para peles delicadas. E os que compram e os que vendem sofreram a mesma mudança citadina”. (p. 35)
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