Vida Leve e alimentação – Quando são livres os corpos
É difícil expor nossos pontos mais delicados, mas descobri que é sobre eles que mais precisamos conversar. Levei 28 anos para entender que sentir-se bem na própria pele leva embora mais quilos que qualquer dieta e alimentação balanceada. Entre idas e vindas, dietas malucas e restritivas, ansiedade e muitas escolhas erradas, eu tenho encontrado melhor meu ponto de equilíbrio. Caminhei da mais rígida disciplina até o mais enlouquecido descontrole. Posso dizer que ambos desajustam a cabeça e o tanto de paz que a gente merece com a mesma intensidade.
Por um bom tempo, briguei comigo mesma enquanto tentava ajustar ideias, crenças e convicções. Por um lado, a tal vida fitness, tão sonhada, idealizada e buscada a qualquer custo, parecia ir contra qualquer ideal particular de autoestima, autoconhecimento, aceitação e equilíbrio que eu tentava buscar. Ainda assim, enquanto defendia meus propósitos de que todos nós devemos caminhar livres e tranquilos com os próprios corpos, a luta diária com os ponteiros da balança não deixava de me atormentar.
As dietas restritivas então voltavam, quando a busca pelo corpo mais saudável retomava seu ponto número 1 em preocupação cotidiana. A rigidez me fazia emagrecer rápido. Eu perdia quilos de forma surpreendente e ganhava uma porção de elogios. Enquanto isso, sofria com a vontade insana de devorar um pedacinho de um algo qualquer não permitido em minha alimentação. Então a vontade de quebrar os padrões voltava mais forte, eu me largava completamente de qualquer planejamento ou equilíbrio alimentar e os quilos voltavam rápido. A insatisfação continuava. Achei que eu nunca ia entender em que ponto me sentia bem. Aos poucos, decidi tentar de outra maneira. “Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar, Isabella”.
Alimentação sem terrorismos
Nos últimos meses decidi largar de mão temporariamente qualquer dieta e deixar a alimentação mais livre, sem neuras. Eu queria experimentar a sensação de conviver com os alimentos como alguém que nunca tivesse passado pela montanha-russa da obesidade e do emagrecimento intenso. Compensei com mais exercícios. A surpresa chegou quando percebi que, sem nenhuma dieta, pela primeira vez nos últimos meses (ou anos) meu peso não mudou. Eu não emagreci, mas também não engordei. Fiquei chocada. Então seria possível conviver de maneira harmônica com o corpo, a comida, os exercícios e sem o terrorismo alimentar de cada dia? Sim!
O que aconteceu? Bem, a ausência de uma preocupação constante com cada grama e caloria do que entraria no meu prato, além da tranquilidade em saber que nenhum item da minha alimentação seria terminantemente proibido em minha vida modificou os seguintes pontos: A ansiedade baixou aos poucos, me levando a diminuir os “ataques” fora de hora. A ausência de proibição diminuiu também a vontade constante por comer cinco quilos de doces. Oras, se eu poderia comer um pouquinho de chocolate quando me desse na telha, não seria preciso atacar o estoque das Lojas Americanas em algum momento oportuno, certo?
A fome baixou, obviamente, pela ausência da constante restrição. E, ainda (pasmem, que surpreendente) a energia para os exercícios melhorou. E assim, sem dieta alguma, o marcador da balança permaneceu estável. Esses meses foram preenchidos por muito diálogo interno, autoconhecimento e descoberta. Eles colaboraram para que minha relação com os alimentos não dependesse mais, constantemente, do meu medo de engordar sem parar e ver novamente a balança marcar os quase 100kg que marcou durante a adolescência.
Comer bem faz um bem danado
Sinto-me mais em paz com a comida, essa gostosa. E ainda mais importante, sinto-me mais em paz com o meu corpo, esse gostoso, que tanto gosta de colocar um biquíni para tomar sol e mergulhar por aí. Sinto-me, finalmente, mais em paz para pensar em um plano alimentar que me auxilie em meus principais objetivos relacionados ao corpo: Deixá-lo mais forte, resistente e saudável para aguentar fazer muitas trilhas, mergulhos, corridas e escaladas por aí. Conhecer mulheres comuns, nutricionistas, atletas e especialistas que falam sobre o terrorismo alimentar foi essencial.
Obviamente, sei como ninguém, e por muita experiência própria, que criar uma rotina alimentar saudável e equilibrada, compatível com a sua rotina e com os seus objetivos, é o ponto principal para conquistar qualquer mudança entre o corpo e a mente. No entanto, deixar de lado as dietas foi um ponto essencial para mudar a minha relação com a comida. Além disso, mudei a relação com a experiência de vida saudável e com o meu próprio corpo.
Há terrorismo alimentar demais por aí. E eu decidi compartilhar um pouco do que já vi e vivi em relação a esse ponto. A ideia é tentar ajudar mais meninas e mulheres a sofrerem menos com as cobranças estéticas. Afinal, o corpo é incrível e comer é uma delícia. Fazer exercícios dá um bem-estar danado e a vida é cheia de possibilidades. Entendi que é possível conviver bem os meus próprios pedaços. Espero que você também aprenda a conviver bem com os seus.
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