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Foto do escritorIsabella de Andrade

Tatuagem promove encontro vivo e afinado em cena

“A mais nova noite do Recife! A noite que abala o quarteirão e faz tremer toda forma de autoridade! A Moulin Rouge do Subúrbio! A Broadway dos pobres! O Studio 54 da favela! Bem-vindos ao Chão de Estrelas!”


É com esse chamado que Clécio Wanderley, interpretado por Cleomácio Inácio, inicia os trabalhos na noite do Chão de Estrelas. Assisto no Sesc, na estrutura clássica da plateia e palco italiano, mas sei que o espaço foi ocupado de forma diferente em outras temporadas, com mesinhas espalhadas tal e qual o teatro que se vê em cena deveria ter em seu aspecto original. Mas ainda ali os atores-cantores promovem sua satírica quebra pelo que é rígido, conservador e quadrado.





A história original, inspirada no filme de Hilton Lacerda, se passa no Brasil de 1970, quando a irônica trupe fictícia de artistas, chamada Chão de Estrelas, se destaca com espetáculos contra o autoritarismo da ditadura militar, ganhando fama como um símbolo da contracultura. E há um gostinho especial em assistir algo assim no Brasil de 2023. Onde a democracia tenta se estabilizar outra vez, depois de anos de ataques fervorosos.


Em uma cena famosa do filme, encenada também no palco do espetáculo, Clécio Wanderley anuncia: O papa tem cu, o nosso ilustre presidente tem cu, a classe operária tem cu. E, se duvidar, até Deus tem o onipresente, onisciente e onipotente cu".


E logo o elenco, sempre presente, vivo e afinado, se reúne em uma performance divertida entre bundas, saltos, cores e um tanto de coreografia embalada por paetês e ousadia na impecável montagem da Cia. da Revista.


Aliás, que elenco! Entre o grupo que brilha coeso e faz o público se sentir parte firme do espetáculo, se destaca André Torquato, como Paulete. Conheço o ator de outros espetáculos e musicais e fiquei impressionada com a naturalidade e verdade que emanaram de sua Paulete, uma das figuras mais vibrantes e carismáticas do espetáculo.


Além dos dois protagonistas já citados, quem completa o trio é Mateus Vicente, que entra em cena como um jovem soldado para quebrar estereótipos. Completam o elenco: Bia Sabiá, GuRezê, Júlia Sanchez, Lua Negrão, Lucas Truba, Natália Quadros, Romário Oliveira e Zé Gui Bueno.





As músicas são outro ponto chave da peça, que tem trilha sonora da banda As Baías. As canções são interpretadas com brilhantismo pelo elenco, e quando não estava emocionada com os momentos mais tocantes, estava me divertindo um tanto e balançando as pernas com vontade de levantar para dançar.


Espero que Tatuagem ganhe outras temporadas em São Paulo e que possa também circular pelo país, vale à pena a visita.

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