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Foto do escritorIsabella de Andrade

Profecias auto-realizáveis, quando nos deixamos ser engavetados.

Tempos atrás eu tentava sair de uma crise de identidade que me fazia sentir habitar sempre a pele de outro alguém. Entre pensamentos e leituras cheguei até o mito de Pigmaleão, que demonstra o poder da expectativa sobre o comportamento das pessoas. O Efeito Pigmaleão, também chamado de profecia auto-realizável, mostra o quanto o olhar, a expectativa e a ideia do outro, podem nos modificar. Ao entender esse conceito passei a enxergar as profecias que me rodeavam e o quanto disseminar estereótipos pode nos levar a estar sempre preso a determinadas etiquetas. Se permitirmos, engavetados.

Já me confundiram o sorriso pela bobeira, a falta de rispidez pela ingenuidade completa, o gosto lúdico pela infância retardatária. A crença nesses estereótipos se tornava tão grande que eu mesma, por algum tempo, passei a acreditar em cada alcunha que me era dada. Sentia o desconforto constante de saber, diariamente, que eu não fazia parte da casca que me era colocada. Quando as profecias impostas foram percebidas por mim, passei a desacreditá-las uma a uma e assim, elas já não eram mais passíveis de ser realizadas. Voltei a ver-me com olhos positivos, o que me abriu novamente o meu leque de escolhas e me possibilitou sair da situação de personalidade passiva, imposta pelos olhos de fora.

Ao perceber a insistência de expectativas externas que não condizem em nada com a pele que realmente habitamos, quebra-se o ciclo das profecias. Não nos tornamos mais aquilo que os olhos de fora tentam nos fazer acreditar que somos. Certo dia, um professor incrível de teatro, Hugo Rodas, perguntou em momento crucial: “Até quando você vai ser aquilo que acha que é sem tentar ser alguma coisa diferente?”.  Até mais dia nenhum. Coisa mais gostosa do mundo entender e conviver com quem se é, e esquecer quem se foi em resposta ao que outros queriam que você fosse.


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