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Foto do escritorIsabella de Andrade

Poemas de amor e a resistência ao ódio pela literatura – Um pouco de Hilda Hilst

Ser poeta em tempos de ódio… As palavras dançam impregnadas daquilo que cada pedaço de gente carrega. Em 2015, preenchia cadernos apaixonados com a velocidade de quem se inspira pelas frágeis voltas que a vida dá. Pode ser difícil pensar poesia em tempos de loucura social se me agarro à utilidade do verso. Ora, para que servem os poemas enquanto o mundo desaba e a gente vai se desajustando ainda mais lá fora? Penso em quem gostaria de reservar parte de seu precioso tempo para ler alguns versos bem arranjados enquanto o retrocesso urge em todo lado.

Confesso, fui temporariamente tomada pela onda utilitarista das coisas e o desânimo frente à desimportância que vai ganhando a cultura. Passei um tempo sem escrever verso algum. Para que servem poemas? Achei bobo parar no tempo e dialogar sobre literatura nas redes enquanto as livrarias fechavam e mito abocanhava cada vez mais apaixonados. Onde caberia alguma paixão pelo verso enquanto os dias se ocupam em ódio?

Com dificuldade, lembrei então que é justamente nesse tempo em que a poesia se torna mais importante. Resistência. E assim, ser poeta pode até voltar a ser fácil. É preciso um respiro, um afago, um ponto de equilíbrio na loucura. O poema pode ser de denúncia ou amor, ambos fazem revolução. Ler verso e prosa, pois somos a favor do porte de livros. Preencher mais páginas enquanto tentam manchar o que já foi escrito. Em 2018, creio que retomamos com mais força os poemas, que se desmancha entre as linhas com a verdade de quem escolhe resistir armado pela possibilidade do riso.

De amor tenho vivido – 50 poemas de Hilda Hilst

Vamos então retomar o amor pelos poemas e a boa existência dos poemas de amor. Quem me acompanha na atual estrada é Hilda Hilst. Com o livro “De amor tenho vivido”, tenho me deliciado um pouco pelas manhãs. Há muita força e um tanto de resistência na poesia de Hilda. Diferentes sensações se misturam entre as páginas escritas pela autora mas, neste livro especificamente, há muito dos poemas de amor. Um deleite importante para o momento de retomar as relações literárias. A poeta parece escrever como quem envia cartas a um leitor específico e consigo acompanhar os versos como se estivessem todos endereçados a mim.

A autora foi homenageada na Festa literária de Paraty em 2018, marcando forte presença no tempo em que pude aproveitar pela primeira vez as ruas movimentadas da Flip. Livros, poetas, música, lançamentos, escritores e muitos leitores. Esperança renovada. Vou me lembrar dela quando a literatura se esconder temporariamente em alguma esquina escura. Nos completamos frente à incompletude dos versos. Enquanto isso, um brinde aos poetas!

 

“Se não vos vejo

Vos sinto por toda parte

Se me falta o que não vejo

Me sobra tanto desejo,

Que este, o dos olhos, não importa.

(Antes importa saber

Se o que mais vale é sentir

E sentindo não vos ver)

São coisas do amor, senhor,

Desordenadas, antigas.

E são coisas que se inventam

P´ra se cantar a cantiga.

Não são os olhos que veem

Nem o sentido que sente.

O amor é que vai além

E em tudo voz faz presente”

[XII, Trovas de muito amor para um amado senhor]

De amor tenho vivido, Hilda Hilst.

 

Sobre a autora


Hilda Hilst. Hilda de Almeida Prado Hilst, mais conhecida como Hilda Hilst, (Jaú, 21 de abril de 1930 — Campinas, 4 de fevereiro de 2004) foi uma poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira. É considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX. Hilda Hilst estreou na literatura com a publicação do seu primeiro livro de poesias, intitulado “Presságio” (1950). Em 1951 publicou “Balada de Alzira”. Nesse mesmo ano foi nomeada curadora de seu pai. Em 1952 concluiu o curso de Direito. A partir de 1954, passou a se dedicar exclusivamente à produção literária. Entre 1955 e 1962, publicou diversas obras de poesias, entre elas, “Balada do Festival” (1955) e “Ode Fragmentária” (1961).

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