Os Tais Caquinhos, Natércia Pontes
Você gosta de leituras que te deixam tentar descobrir parte da história?⠀
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Os Tais Caquinhos, de Natércia Pontes, me leva justamente para esse espaço de experimentação e criação conjunta da história. Um espaço dividido entre autor e leitor. Somos arremessados no apartamento entulhado de uma família desajustada, entre um pai acumulador e filhas que tentam encontrar algum espaço no mundo em meio a tanto tumulto.⠀
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Mas Natércia não nos entrega a história de uma vez. Experimentamos a narrativa em pequenas pinceladas de bagunça, fome e tentativas de dar vazão aos desejos. A narrativa vai nos levando para dentro dessa casa sem espaços, sem respiro, uma falta de fôlego. ⠀
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Mas sempre com pequenas frestas para que o leitor descubra e tire suas próprias conclusões.⠀
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O quanto uma narrativa precisa ser explicada? Eu estava pensando hoje sobre esse ponto quando me lembrei de Os tais caquinhos. O quanto dessa narrativa gente perderia, enquanto leitor, se existisse no livro um excesso de explicação? ⠀
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Não sei quanto a vocês, mas eu adoro livros e filmes que me deixam alguns espaços abertos para descobrir, pensar e criar as minhas próprias teorias.⠀
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Aquele equilíbrio ideal entre o dito e o não dito. Sem deixar o leitor perdido entre fluxos de pensamento solto que não dizem nada, e sem também explicar cada detalhe como em um livro didático. ⠀
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E essa linha tênue entre a palavra e o silêncio a gente encontra justamente na experimentação de obras que incentivam esse salto.⠀
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Isso me lembra um dos pontos mais importantes que aprendi sobre um bom ritmo e boas narrativas: escrita também é silêncio, saiba habitar o vazio.⠀
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