O inventário das coisas ausentes, Carola Saavedra
Comecei, finalmente, a ler Carola Saavedra pelo incrível Inventário das coisas Ausentes. O título me chamou primeiro, pela vontade de descobrir que coisas eram essas que andavam escondidas. ⠀
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Ao abrir as páginas, me encontro com um livro que se propõe a ser uma ótima experimentação do que viria ser um romance linear. Carola constrói sua narrativa por fragmentos que se perdem, se ausentam e se alinham em um fio condutor que deve ser tecido com a ajuda do próprio leitor.⠀
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É um livro para se ler também nas entrelinhas dos retratos de viva que encontramos ao longo das páginas. E nossa experiência de mundo também não é assim, fragmentada, enquanto tenta se construir entre a realidade, a ilusão e a memória? O livro de Carol me transporta para esse espaço. ⠀
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Como se eu abrisse meus próprios cadernos antigos, diários, textos publicados, fotografias de família e memórias um tanto atrapalhadas para tentar construir um fio que possa ser chamado de minha história.⠀
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Acho uma delícia ler assim, participando da narrativa como um observador que se teletransporta para alguns fragmentos dispersos da história. Quando combinados, pensados e temperados pela minha vivência própria, os fragmentos começam a fazer sentido. ⠀
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Como o incômodo muito bem trabalhado em relação a figura paterna, e também a tentativa de entender um amor que foi, mas não é, amarrar as pontas soltas para dar algum sentido a vazio.⠀
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É um livro experiência. E é essa uma das características que mais têm me encantado na literatura contemporânea, principalmente essa, feita por mulheres, a possibilidade de inventar outros espaços. ⠀
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A prosa se divide em duas partes: Caderno de Anotações e Ficção. Passeamos pelos diários de Nina e pelas buscas de um narrador personagem como se transitássemos por esse fio da vida que a gente inventa para reconstruir memórias. As narrativas parecem um pouco vividas, outro tanto ainda por viver.⠀
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Já estou com outros livros da Carola aqui na fila de próximas leituras e indico que você faça o mesmo. É uma dessas escritoras contemporâneas que ajudam a construir e marcar a literatura do nosso tempo.⠀