Liberdade ou Ponto de vista do opressor
Atualizado: 5 de fev. de 2021
Em dias de desafio sem maquiagem não consegui pensar em outra coisa que não fosse liberdade. Não necessariamente em poder sair com a cara limpa. Liberdade de ser quem se é, de escolher sem ter medo olhares tortos, enfim, sem impor novas regras para tentar encobrir o padrão anterior.
Ou isso, ou que muda é apenas o ponto de vista do opressor.
Tempos atrás me peguei sentada em uma festa fazendo comentários de desaprovação a um grupo de mulheres que chegava rindo e sambando em vestidos curtíssimos e maquiagem pesada – apenas para o meu ponto de vista – demais para se utilizar durante o dia. Por alguns minutos, julguei pela aparência.
Em um comportamento, muitas vezes comum, de achar que a minha maneira de ser portar seria melhor que a do outro, me vi reduzindo meninas a estereótipos externos, tal qual eu sempre repudiei. Nesse mesmo dia prometi tentar não etiquetar pessoas, nem reduzir personalidade à aparência. De que adiantaria tentar fazer ser válida a minha liberdade própria se eu, da mesma maneira, decretasse como inválida a escolha do outro?
Nessa semana esse pensamento me voltou. Pipocaram na internet fotos de meninas, moças e mulheres ao natural, em prol, acredito eu, da liberdade de andarem por aí com rostos naturais, sem a obrigatoriedade dos tais padrões de beleza. Vi, ao mesmo tempo, alguma hostilidade, como se a ausência de produtos, filtros, tintas, lentes, saltos, ou o que quer que seja, trouxesse alguma espécie de superioridade.
Mas novamente, se formos por aí, estaremos apenas mudando o foco do padrão correto, tentando colocar como errado o comportamento oposto. E no fim das contas, não há nada extraordinário, é apenas mais uma escolha pessoal. Logo, não entendo o caráter de desafio.
É a tal liberdade imposta, vejo como se alguém me dissesse: “olha, ser livre é assim! Assim é legal! Agora… faça!!”. Contraditório. Acho uma delícia que tentemos nos preocupar cada vez menos em priorizar o fato de estarmos sempre belas, mais ainda, é importantíssima a tentativa de desvincular mulheres da função de objetos ornamentados. Mas sigamos com o equilíbrio.
Vamos nos desafiar a sermos quem quisermos. Se eu estiver me sentindo bem em sair com a cara limpa, vou sair. Se eu achar bonito usar rímel verde e batom laranja, bem também. Talvez seja esse o desafio maior, viver para fazer bem aos seus próprios olhos, sem a imposição do olhar alheio.
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