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Foto do escritorIsabella de Andrade

Madreselva, Angela Cuartas

Terminei de ler na estrada o Madreselva, livro de Ángela Cuartas, primeiro lançamento dessa fase nova da Diadorim E eu adoro terminar a leitura nesses deslocamentos, experimentando a história numa transição de espaços que combinou muito com os contos fluidos da Ángela.⠀

São histórias curtas que passam por questões intrínsecas ao que é ser mulher e passam por temas difíceis, como a violência de gênero, de forma quase delicada, ainda que intensa. A natureza também está presente em toda a obra, criando um caminho de narrativas que parecem vivas, conversando mais de perto com o corpo e a imersão nas palavras do que com o próprio sentido.⠀

Aliás, nunca gostei de buscar sentido na leitura, mas sim experiência. E é nessa troca interna que a Ángela abre caminho a passos largos, falando muito de perto com o ponto de partida do que sentimos ao passar por determinada experiência. As narrativas me parecem mostrar esse estado de reconhecimento, um entendimento sensorial daquilo que pulsamos antes de falar ou expressar em ideias já formadas.⠀

A leitura foi muito fluida e o meu conto preferido foi esse que escolhi um trecho para ler: A teoria do abraço. Conversou muito de perto com algum ponto meu, com alguma coisa entre o estômago e um pedacinho mais externo por perto do peito.


Para a existência do abraço, a rendição é necessária. Quantas vezes a gente não se afasta por não se deixar render? E quanta distância não se cria nessa necessidade de ser rocha. E a rendição se dá em sentir o ar morno saindo pela boca do outro no mesmo tempo em que o corpo se agarra apenas à dureza da própria terra.

Deixo aqui mais um trecho que gosto, do mesmo conto:⠀


“Mal consigo ver o sofá, mal consigo me ver, mal consigo ver o edifício apodrecendo na minha frente, mas o morro eu vejo. O morro eu desejo. Não simboliza nada, apenas desejo o morro, desejo a concretude, a firmeza da rocha, o lugar fixo da pedra, a certeza de que vai no mesmo lugar, sem importar as circunstâncias. (...) Não existe nada mais parecido com uma casa em ruínas do que uma casa em construção”.⠀

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