Kiki de Montparnasse – irreverência artística
- Isabella de Andrade
- 15 de jan. de 2017
- 4 min de leitura
“ Kiki de Montparnasse era maravilhosa de se ver, sendo seu rosto naturalmente bonito, ela o havia convertido em obra de arte. Ela tinha um corpo prodigiosamente belo e uma voz agradável. Kiki foi sem dúvida a rainha desse bairro de artista, sonho e destino de milhões de pessoas nos anos 20. Kiki e chegou a simbolizar tudo que oferecia Montparnasse.” Ernest Hemingway

A premiada Graphic Novel de Catel e Bocquet conta, entre realidade e ficção, a vida da importante modelo parisiense Kiki de Montparnasse. O livro consagrou-se como vencedor no Angoulême 2008. Além disso, foi vencedor do Millepages BD em 2007 e do Grand Priz RTL Comic Strip em 2007. A história de uma das primeiras mulheres emancipadas de sua época é mostrada através dos finos traços de Catel Muller. Catel já ilustrou mais de 50 livros em parceria com a escrita primorosa de José Louis Bocquet.
A dupla realizou intensa pesquisa a respeito da vida da artista e escolheu alguns de seus recortes para compor a biografia em 416 páginas. São 370 folhas reservadas para a criação em quadrinhos, acompanhadas pela bem trabalhada cronologia e biografia dos principais personagens do enredo. Apesar da história fragmentada, a leitura é envolvente. A história é facilmente absorvida em sua cronologia cheia de altos e baixos.
O traço simples de Catel, que já ilustrou mais de 50 livros evoca com facilidade o clima, a moda e a movimentação cultural da época. A parceria criativa acontece com a escrita primorosa de José Louis Bocquet. A graphic novel retrata o espírito da época e a atmosfera parisiense a partir da década de 1920, mostrando bares, cafés, cabarés e ateliês da cidade.
Tenho tido grande sorte com os meus primeiros livros escritos em Graphic Novel. Na minha terceira leitura do ano me encontro com outro ponto de vista de mulheres que contestaram e revolucionaram seu tempo. Alice Ernestine Prin nasceu em 2 de outubro de 1901, em Châtillon-sur-Seine, pequena cidade da França. Foi enviada para Paris pela avó, que a criava em extrema pobreza, e lá se tornou conhecida como Kiki de Montparnasse.

Man Ray em frente a um retrato de Kiki. /Michel Sima /sc
O bairro parisiense abrigava grande parte da boemia e do burburinho cultural da época, tornando-se ponto de encontro para nomes como Picasso, Fujita, Cocteau e Modigliani. Kiki de Montparnasse, irreverente em seu tempo e audaz em seu próprio corpo, tornou-se musa inspiradora para fotografias e pinturas de fortes nomes da década de 1920, inclusive de Man Ray, de quem se tornaria companheira. O local atraía pintores, escritores e músicos de toda a espécie.

Entre os primorosos retratos de Man Ray
A história de Kiki de Montparnasse
O trabalho como modelo surge de maneira natural e despretensiosa, através de encontros com artistas da época, de seu carisma e de sua despreocupação com a nudez do próprio corpo. Kiki cantava em bares e se apresentava em badaladas casas noturnas da época, sendo muitas vezes julgada e chamada de prostituta como tantas outras modelos e atrizes de seu tempo. Alice de Prain aventurou-se ainda na pintura, criando telas que ganharam o gosto popular na época. Kiki de Montparnasse enfrentou o preconceito e o moralismo da sociedade em que vivia e seu jeito desinibido e intrigante a transformaram em um ícone de seu tempo. Modelo, pintora, cantora e dançarina, Kiki teve presença ativa na vida cultural parisiense. A história nos inspira ao mostrar a genialidade e a segurança de uma mulher à frente de seu tempo.

Noire et Blanche (variante), 1926 Photo de Man Ray
A irreverente e carismática artista publicou, entre 1929 e 1930, sua biografia, intitulada como Memórias de Kiki, que ganhou apresentações de Ernest Hemingway e Foujita Tsuguharu. O livro foi traduzido por Samuel Putnam e publicado em Manhattan, sendo imediatamente considerado indecente pelo governo dos Estados Unidos, onde foi proibido até a década de 1970. Seu estilo de vida mostrava a ruptura com a postura que uma mulher deveria mostrar em seu tempo.
Em meio a um cotidiano polêmico, que envolvia drogas, álcool e paixões ardentes, a modelo mostrava-se livre do padrão e do senso comum de sua época. Mais do que a própria vida envolta a polêmicas de Kiki, acredito que o legado que a artista nos deixa é a de viver de acordo com aquilo que acreditava ser sua própria liberdade.
Sinopse de Kiki de Montparnasse
No Montparnasse de boemia e genialidade dos anos 1920, Kiki de Montparnasse consegue sair da miséria para se tornar uma das figuras mais carismáticas da vanguarda e do entre-guerras. Companheira de Man Ray e inspiradora de suas fotos mais míticas, ela será imortalizada por Kisling, Foujita, Per Krohg, Calder, Utrillo e Léger. Mas se Kiki é a musa de uma geração que busca sair da ressaca da I Guerra Mundial, é antes de mais nada uma das primeiras mulheres emancipadas desse século. Para além da liberdade sexual e sentimental, Kiki se impõe no mundo por uma liberdade de tom, de palavra e de pensamento que vem de uma única escola: a vida.
Grapich Novel – Kiki de Montparnasse
Autores: Catel Muller e José-Louis Bocquet
Páginas: 416
Editora: Galera Record
Preço médio: R$70
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