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Foto do escritorIsabella de Andrade

Floresta que anda - Cia Vértice

Última etapa da trilogia de espetáculos que imergem no universo cinematográfico, e dirigido por Christiane Jatahy,A floresta que anda, da Cia. Vértice, esteve em cartaz entre os dias 24 e 25 no mezanino do Museu Nacional de Brasília. Além de levar o público a um espaço cênico inovador e não tradicional, a produção imergiu os espectadores entre os desdobramentos de sua própria criação.


Desta vez, o público caminhou por entre o espaço cênico ocupado por telões que exibiam trechos de documentários feitos pela própria Jatahy, enquanto conversavam, comiam e bebiam, em um ambiente que lembra a vernissage de uma exposição. Sem definições limitadas, a obra de Christiane caminha entre o teatro, a performance, o cinema, o documentário e as galerias de arte; possibilitando que cada espectador se surpreenda e crie seu próprio entendimento do espetáculo.




A trilogia foi iniciada em 2011, com o espetáculo Julia (adaptação do clássico Senhorita Júlia, de August Strindberg)em que Jatahy mesclava interpretação ao vivo e cenas pré-gravadas. Em 2014 foi a vez do premiado E se elas fossem para Moscou? (baseado em As três irmãs, de Anton Tchecov), quando o próprio elenco filmava seus integrantes em ação, criando um filme editado e exibido em tempo real em uma sala próxima ao teatro. Desta vez, a diretora optou por ir além e romper as fronteiras do espetáculo.


Durante a apresentação, o público pôde observar a si mesmo nas filmagens projetadas, formando uma espécie de curta-metragem em que cada espectador presente poderia sentir-se como personagem. Antes do início da encenação cerca de 11 pessoas da plateia receberam fones e walk-talks, onde escutavam orientações da própria diretora durante a apresentação. “Minha pesquisa é permeada em juntar diferentes territórios, entre teatro e cinema, realidade e ficção, ator e personagem, ator e público. Eu me interesso em pensar de que maneira podemos encontrar essas relações entre teatro e cinema em um mesmo espaço”, afirma a diretora.


Jatahy conta que, apesar de não criar seus espetáculos pensando em atrair uma determinada quantidade de público, pensa em uma atmosfera que possa criar a estes espectadores o maior número possível de possibilidades, tirando o público de sua usual inércia. Assim, é possível perceber a presença de um público atuante, que observa, reflete, indaga e tenta entender melhor o próprio espaço a que está inserido.




Após algum tempo da exibição dos documentários em telas, o público se surpreende com a aparição de Julia Bernat, única atriz em cena. Julia surge de maneira repentina no balcão de um bar criado no fim do mezanino do Museu. Ainda sem falas, o corpo presente da atriz toma conta do espaço cênico e da atenção de quem está no local. Christiane mistura as fronteiras entre ficção e realidade no espetáculo, criando uma atmosfera onde personagens reais pré-gravados, espectadores participantes e uma única atriz em cena, transitam e dialogam entre si. As novas imagens projetadas nos telões se aproximam por diferentes lados da plateia, que imersa e rodeada pelas figuras, percebe-se frente a frente com a floresta que anda.


A Floresta que anda é um trabalho sobre o sistema político, econômico e social em que vivemos hoje no Brasil e no mundo. Inspirada no texto do Macbeth, de William Shakespeare, lança a pergunta sobre quem seria, ou o que seria, esse Macbeth hoje. Com o clássico shakespeariano, Christiane Jathay cria uma poética reflexão sobre a dura realidade dos sistemas de controle e poder da sociedade, mostrando a constante atualidade presente nas obras clássicas do dramaturgo.


Cria-se então, uma performance cotidiana. A mistura potente entre as diferentes linguagens artísticas mostra o quanto é possível submergir e provocar o espectador com a criação de um novo espaço e a submersão em uma experiência cênica amplamente participativa.



(Espetáculo de 2016)

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