Flor de Gume, Monique Malcher
Flor de Gume é o livro de estreia de Monique Malcher, ecritora paraense que nos presenteou com uma obra linda e cheia de experiências sensoriais. Seus 37 contos falam de mães, avós, meninas. Mulheres de diferentes idades que enfrentam suas travessias.⠀
⠀
Monique buscou, com suas narrativas, mostrar que essas mulheres, que transitam em cenários e espaços do Pará, não se resumem a um estereotipo único do que muitos entendem por “mulheres do norte”. São personagens diversas e ricas em possibilidade, contradições e crenças.⠀
⠀
O livro é dividido em três partes, que se conectam pela força das águas tão presentes entre as páginas. O título de cada uma delas já nos desperta para a escrita da autora, que não tem medo de rasgar as entranhas:⠀
⠀
Parte 1: Os nomes escritos nas árvores, os umbigos enterrados no chão.⠀
Parte 2: Quando os lábios roxos gritam em caixas de leis herméticas⠀
Parte 3: O reflorestar do corpo, o abandonar das pragas.⠀
⠀
A escrita de Monique transita pela prosa poética. Sim, eu sei que toda prosa é poética, mas a da autora sabe mergulhar com especial cuidado e destreza nesse espaço. O que mais me chama atenção em seu jeito de contar histórias é a experiência que começa na palavra e termina na pele. Os contos são vivos, tem cheiro, gosto, lugar.⠀
⠀
Existe um fluxo de pensamento muito potente o longo das histórias. E é esse fluxo intenso, cru, delirante e sem volta que nos faz conhecer mais de perto cada personagem. Essas mulheres não se mostram, não nos contam, mas nos atravessam.⠀
⠀
O livro foi publicado pela Pólen Livros (Selo ferina) e nos leva a ler convivendo um tanto por dentro da pele de seus personagens. ⠀
⠀
Não encontramos narrativas que vitimizam ou transformam em heroínas suas mulheres, mas um enredo que mostra suas dores e aprendizados. Dá vontade de escrever depois. Sentindo um reconhecimento meio melancólico do corpo que aprendeu sozinho a compreender a experiência das coisas.⠀
⠀