Festival Livre: Literatura, direitos humanos e bons domingos nos parques da cidade
No Dia Nacional dos Direitos Humanos, 12 de agosto, eu participei como autora no segundo encontro do Festival Internacional de Literatura e Direitos Humanos, o Livre. O Festival Livre se destaca, enfim, como um ponto fora da curva ao reunir literatura, sarau, poetas, debates importantes, autores locais e internacionais, diálogos essenciais e muitos livros espalhados por diferentes parques do Distrito Federal.
(Fotos: Mariana Costa)
Criado com a marca da descentralização cultural no DF, o Festival Livre nos mostra a diversidade de parques espalhados por pontos escondidos da cidade. Por fim, todos os domingos de agosto guardam um encontro em uma região diferente.
O Espaço do Autor
O mais recente deles, marcado pela celebração do dia 12, contou com a presença de Julián Fuks e Beatriz Leal para compor o debate. Dois nomes celebrados da literatura contemporânea se encontraram para debater com um público diferente daquele observado em espaços mais tradicionais da cidade. O tema: Democracia em tempos sombrios: o romance como resistência.
No palco, Beatriz Leal conduziu com suavidade e inteligência a conversa tão repleta de pontos essenciais. Ali, no parque, os livros nos levaram a transitar entre a política, a economia, a liberdade, o otimismo, o passado, o futuro e as vontades. Beatriz é discreta nos gestos e firme na palavra. Um dos orgulhos da jovem literatura brasiliense.
Diferentes caminhos literários – Festival Livre
No domingo de sol, famílias, moradores de Sobradinho e adolescentes de bicicleta se misturaram aos autores prontos para dar voz à criação em um sarau que dava o pontapé inicial ao encontro. Juntos, celebramos o domingo de sol em uma mistura de dia dos pais, direitos humanos e passeio em fim de tarde. O Festival Livre é isso, um passeio de domingo enriquecido pelo diálogo.
Bate-papo com Julián Fuks e Beatriz Leal
Foi uma delícia observar as palavras tocando ouvidos e conquistando olhos diferentes. Como bem lembra Paulliny Gualberto Tort, idealizadora do evento, o encontro do dia 12 aconteceu de maneira extremamente simbólica. A celebração, que teve sua data promulgada pela presidente Dilma em 2012, marca o dia da morte de Margarida Maria Alves, trabalhadora do campo que foi brutalmente assassinada em 1983.
Paulliny lembra que a ideia de levar o festival para diferentes parques do DF veio da necessidade de expandir o eixo cultural que circula, muitas vezes, em linha reta por alguns pontos específicos da cidade.
“Os brasilienses que vivem no Plano Piloto têm uma dificuldade muito grande de dialogar com as demais regiões do DF. E também aqueles que moram nas RAs do lado sul não circulam nas RAs do lado norte e vice-versa. Isso acaba criando uma espécie de isolamento entre nossos bairros”, destaca a escritora.
Paullyni Gualberto Tort, idealizadora do festival.
A ideia do Festival Livre é fazer com que as pessoas saiam de sua zona de conforto e conheçam um pouquinho da vida cultural desses lugares que estão há poucos quilômetros de distância: quem é de Taguá vai para Sobradinho, quem é do Plano vai para São Sebastião e assim por diante.
A urgência da criação
Por fim, homenageando a escritora mineira Conceição Evaristo e o poeta mato-grossense Nicolas Behr, “prata da casa” desde os anos 1970, o Festival tem atividades em Taguatinga, Sobradinho, São Sebastião e Plano Piloto. Ao todo, serão cinquenta autores convidados, quatro mesas temáticas, duas ações sociais e uma publicação inédita. Enfim, o nome do festival diz respeito a algo precioso para o desenvolvimento de uma sociedade justa: a liberdade.
Logo depois, Paulliny Gualberto lembra que o Festival Livre foi criado em resposta a tendências retrógradas que tem se espalhado na sociedade. Para ela, em momentos como este, a omissão é uma alternativa desastrosa. A autora lembra que, sobretudo, a literatura nos ensina a escutar, a olhar com humanidade para o universo do outro.
“Cada um deve se posicionar como pode, com as ferramentas de que dispõe. E o que nós, escritores, temos ao nosso alcance é a literatura. Por meio dela, falamos e somos ouvidos”, destaca.
Confira entrevista com a idealizadora do Festival Livre
Qual a importância de um festival como esse para a cidade?
O que existe de mais importante em qualquer evento literário, na minha opinião, é proporcionar encontros. No primeiro domingo, fiquei emocionada em ver a juventude negra, sobretudo as mulheres empoderadíssimas que estiveram conosco, ouvindo a Conceição Evaristo. Estavam atentas, envolvidas e trocando, aprendendo. Eu aprendi demais naquela tarde. Sinto que saímos maiores, com mais lastro, quando temos oportunidades assim. A Livre!, assim como outros eventos, ajuda a inserir Brasília no circuito literário nacional, fazendo com que esses encontros se tornem mais frequentes.
Que diálogos vocês buscam criar com o público?
Ouvimos as pessoas falarem de Direitos Humanos, mas sem conhecerem o conteúdo da carta e o que ela pretende. É preciso que nossa sociedade saiba do que se trata, porque todos somos protegidos por esse documento. Com a Livre! queremos despertar o interesse pelos Direitos Humanos a partir da literatura. Já que o texto literário nos permite exercitar a alteridade de uma forma muito especial.
Enfim, como foi o primeiro dia de encontros com o público, Cristiane Sobral e Conceição Evaristo?
O primeiro dia foi incrível! A Cristiane Sobral conduziu magnificamente a conversa com nossa homenageada, Conceição Evaristo. As pessoas ficaram emocionadas e muito envolvidas pelo tema da mesa. A Conceição, além de ser uma das maiores escritoras da nossa contemporaneidade, é dona de uma força impressionante. Ficamos hipnotizados por aquelas duas grandes mulheres falando de suas escrevivências.
Serviço
Meimei Bastos: Uma das poetas a se apresentar no Livre!
O quê: Livre! Festival Internacional de Literatura e Direitos Humanos
Quando: Todos os domingos de agosto (5 a 26/8)
Onde: Taguatinga, Sobradinho, São Sebastião e Plano Piloto
Entrada: Gratuita
Site: www.literaturaedireitoshumanos.com.br
Mídias Sociais: @FestivalLivre
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