top of page
Foto do escritorIsabella de Andrade

Fernanda Montenegro mostra a força da mulher em cena no Municipal: “Nenhum sistema vai nos cal

“Nenhum sistema vai nos calar”

Aos 90 anos, Fernanda Montenegro lotou a plateia do Theatro Municipal de São Paulo e fez ecoar aplausos incansáveis ao dialogar com o público no lançamento de seu livro de memórias: Prólogo, Ato, Epílogo, pela Companhia das Letras. Fernanda é um sopro de vida para lembrar que o futuro ainda é um lugar possível. Artista do palco, a atriz se aventura nas páginas de um livro para registrar os caminhos trilhados em nove décadas de estrada, grande parte delas vividas no teatro.

Para deixar a minha primeira visita ao Theatro Municipal ainda mais emocionante, o mestre do Teatro Oficina, Zé Celso, apareceu para aplaudir de perto. Zé subiu rolando no palco e arrancou sorrisos do público (e meus) aos reforçar a imagem de uma criação artística forte, pulsante, potente. Os dois representam a imagem de um país que abriga artistas emblemáticos, mas ainda luta para reconhecê-los.

Ao ser apresentada como uma grande Xamã do teatro, Fernanda Montenegro discordou. “Os homens é que são Xamãs, Zé. As mulheres são as bruxas Ao ser apresentada como uma grande Xamã do teatro, Fernanda fez questão de lembrar: “Os homens é que são Xamãs, Zé. As mulheres são as bruxas!”.

 Fernanda Montenegro e o espaço de criação

O encontro fez parte da programação do primeiro Festival Mario de Andrade de literatura. Como bem lembrado por Fernanda, a dupla marca também a união da Liberdade de Expressão. Em uma mesa de madeira posicionada ao centro do grande palco do Municipal, Fernanda ocupou seu lugar de atriz/escritora/artista/poeta. Ela leu trechos da nova obra. Para ela, o livro virou um ato de resistência.

“Em determinados papéis, já soltei uns demônios aqui de dentro no palco. O teatro tem disso”.

A leitura de trechos das memórias foi alternada por um bate-papo com a jornalista Marta Góes. Ela foi, enfim, responsável por redigir a obra entre novembro de 2017 e agosto de 2019. A partir de entrevistas com a artista. Fernanda Montenegro lembrou que fez questão de escolher a única mulher entre o grupo de provocadores culturais que poderiam redigir seu livro. “Eu a escolhi. Soube que ela, enquanto mulher, saberia me provocar”.

Cultura e política

No palco do Municipal, a atriz relembrou da possibilidade incrível do teatro. Ele permite fazer diferente todos os dias, já que “todo dia somos iguais, mas sempre um pouco diferentes”. Ao longo de suas memórias, Fernanda afirma ter visto, por fim, o resultado, de maneira trágica, de um país que está sempre recomeçando. Nesse ponto, a atriz se referia ao desmanche cultural. Além de políticas de governo que são responsáveis por fazer regredir nossos avanços em relação à arte e à cultura.

Por fim, questionada sobre o que a faria “subir no palanque” atualmente e o que poderia ser feito para desacelerar a crescente crise que enfrentamos no país, Fernanda Montenegro foi enfática. Defendeu o fim da reeleição. A lucidez e a força de Fernanda Montenegro marcam a ideia de que, entre crises e desmanches, podemos perseverar.

3 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page