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Foto do escritorIsabella de Andrade

Espetáculo Vinícius

Caminhar por entre as salas que abrigavam os primeiros saraus artísticos do grande poeta, conhecer os rostos e corpos que inspiraram versos, tomar um pouco de sua bebida preferida e sentir o cheiro fresco do alimento a cozinhar.


São essas algumas das sensações e possibilidades que o espetáculo Vinícius pretende levar ao seu intimista e apaixonado público. Convidada a transitar por 11 espaços transformados em ambientes que remetem à vida do poeta, a plateia acompanha o elenco que relembra a história do artista entre versos e algumas das canções mais bonitas da música popular brasileira.


O espetáculo acontece na tradicional casa do teatro Mapati e foi criado pelo grupo Infiltrados, que tem por objetivo básico a ocupação de espaços através da linguagem teatral.



A ideia dos artistas, como bem colocada no nome da companhia, é adentrar e infiltrar-se por espaços diversos da cidade, sendo eles casas, pontos culturais, teatros e outros lugares que possam receber o espetáculo itinerante. Utilizando-se da inspiração trazida pelo documentário Vinícius, produzido por Miguel Faria Junior, além de pesquisas e improvisos, o grupo embarca na criação de um cenário e uma atmosfera que possam transportar o público para a época do poeta.


O cotidiano produzido no palco, sempre regado à bohemia, música, poesia, tristezas e felicidades remete ao desejo de fazer reviver e remontar os tempos de efervescência criativa do artista. Utilizando os recursos dos diversos cômodos da casa, os intérpretes apresentam os amores, os amigos e a indissociável obra do poeta que se aproximou do samba e do diplomata que escrevia poesias e canções. O espetáculo, sempre em movimento, coloca o público em uma posição participante, saindo da inércia de mero espectador. O objetivo é deixar a plateia confortável, sem o espaço rígido geralmente colocado no espetáculos.


Abaetê Queiroz, diretor, ator e um dos criadores do espetáculo, conta que a montagem foi iniciada em 2014, em uma das oficinas do Circo íntimo. Com o sucesso da primeira temporada, o elenco decidiu por continuar o projeto. “O documentário foi nossa maior referência, mas pesquisamos também em livros, entrevistas, poesias, músicas. A partir dessa pesquisa trabalhamos com improvisos e provocações. Nós somos um grupo de amigos, grandes contadores da história do Vinícius que permanecem ali, saudosistas”, conta.



O diretor afirma ainda que no teatro a história se torna um pouco mais performática, com a criação de novos corpos e movimentos. “Ali a história se dilata, cria outra estética”. O ator conta que o público é sempre incentivado a participar e, ainda que tímidos, diversos momentos marcantes já surgiram.


“Um homem já começou a recitar poemas do Viníciusdepois de escutar algumas canções. Achamos incrível e queremos que aconteça mais. Queremos o público em uma vivência, não apenas observando o espetáculo”, afirma.

A atriz e co-diretora do espetáculo Juliana Drummond conta que a ideia era fazer o público viajar e experimentar no teatro todos os seus sentidos, misturando tato, olfato, paladar, visão e audição. “Por isso, resolvemos oferecer, durante todo o espetáculo, whisky de boa qualidade, a bebida preferida de Vinícius. Aliás, o poeta sempre dizia que o whisky era o melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado”, declara a atriz. Drummond conta que a recepção do público tem sido excelente e que as pessoas saem felizes do teatro, resgatando a essência de amor, liberdade e companheirismo exaltada pelo poeta.


“Acolhemos todos com muita música e o público canta junto, são muitos refrões conhecidos e reconhecidos”. Para finalizar, a atriz relembra um dos aspectos principais que levaram os artistas adentrarem no universo do poeta para a criação do espetáculo: Vinícius constrói uma linha de aproximação muito grande com a criação e incentiva que toda e qualquer pessoa vá sempre atrás daquilo que acredita.


O caminho itinerante do espetáculo


Dentro da casa do teatro Mapati o elenco percorre, junto ao público, 11 ambientes que visitam a vida do poeta. As transições são parte atuante do espetáculo e o tempo das cenas é flexível. Confira um pouco dos espaços percorridos, descritos pelo ator e diretor Abaetê Queiroz:


A gente faz mais ou menos 11 mudanças de espaço. Quando o público chega nós estamos na sala de entrada, fazendo as casas abertas, os saraus que o Vinícius fazia. Oferecemos whisky e chá mate para a plateia. O primeiro ambiente é essa farra, um grande sarau na casa do Vinícius. Depois fazemos em uma varanda lateral do teatro o poema Putas da Lapa, as prostitutas chamam o público para lá e as pessoas vão aos poucos. Depois que todos chegam, o texto começa, para ninguém perder nada do que está sendo proposto. Logo depois, em uma segunda varanda com cozinha, a gente prepara um jantar.


Sobe o cheiro de comida, a gente passa pratos e aos poucos o pessoal vai entendendo que também pode se servir. Atuamos ali no meio deles e nesse terceiro momento, acontecem as conversas de bar do Vinícius. Depois vem o momento da morte do pai dele, nós descemos para um beco ali perto do palco, no subsolo. Nesse local começa um momento bem mais sério, mais escuro, lento, sofrido. Passamos por um corredor estreito. Em seguida voltamos para a sala de estar inicial e todos os móveis estão cobertos com panos. O público vê a casa que agora já esta à venda, o espaço está modificado”.



(Espetáculo apresentado em Brasília, 2016)

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