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Foto do escritorIsabella de Andrade

Escrever na estra (gatilhos de escrita)

Mais um livro finalizado em movimento (e em breve no @elasnaescrita) Muita gente se espanta quando digo viajar 16h ou 18h de ônibus até Brasília. Mas a bem verdade é que gosto um bocado de pegar estrada. Na estrada o tempo se dilata, torna-se outra vez coisa palpável, aproveitável, vagarosa, o contrário do que percebo no cotidiano de uma grande cidade.


Entre as melhores coisas para fazer em tanto tempo de deslocamento está, em disparada, a leitura. O celular perde a conexão, a bateria logo acaba, as tomadas não funcionam, terminam-se os assuntos, os passageiros dormem ou se entregam a observar o lado de fora em passagem. E é nesse ponto que o livro vira outra vez mergulho profundo de horas e horas, sem parar, assim como era na adolescência, quando o tempo não era um frenesi de respostas rápidas.


Na ausência de notificações, interrupções e chamadas externas, a leitura acompanhada de uma boa janela ganha status de viagem no tempo-espaço. Já li muitos livros assim, em deslocamento, e confesso que tem sido o meu espaço preferido para esse encontro. Na estrada a desmemória ganha espaço e os afazeres todos ficam pra depois, nada é urgente, a não ser, sem pressa, a chegada.


É nessas horas em que o reencontro com os livros se torna mais intenso e a escrita começa a ganhar espaço em sua aparição mais espontânea, sem chamado.


Leio, me perco nas árvores correndo do lado de fora, e o bloco de notas começa a fervilhar. Toda história cresce quando permitimos tempo e espaço, tédio e vazio, espera e resistência.


Outro ponto alto é acompanhar a mudança de paisagem. Sem olhar no mapa é possível saber se ainda estamos em Goiás, com cerrado mais aberto, árvores baixas e tortas, muita terra marrom, ou se já adentramos em território mineiro, quando o cerrado começa a se adensar, ganhando altura, retidão. Mais fácil ainda é perceber a aproximação de São Paulo, onde as bordas de qualquer rodovia vão deixando de ser matagal pra virar um tanto mais de cidade.


Às vezes, depois de horas de páginas viradas, lanches comidos, cochilos curtos e paisagens transformadas, bate um tédio, mas, digo com alguma propriedade, o tédio e o movimentos são dois dos melhores amigos da criação.

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