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Foto do escritorIsabella de Andrade

Confira três escritoras brasileiras contemporâneas que você precisa conhecer

Recentemente tenho dedicado um bom tempo das minhas leituras para conhecer novas escritoras brasileiras contemporâneas. Tenho encontrado histórias e narrativas incríveis. Além disso, tem sido um prazer conhecer novos estilos, propostas e trajetórias da literatura feita por mulheres talentosas no nosso país. Vamos conhecer algumas?

Aline Bei

Bem, a primeira delas é a escritora Aline Bei, nascida em São Paulo. Eu, como tantos outros leitores, me apaixonei pela narrativa ousada e pela delicadeza triste do livro O peso do pássaro morto, publicado pela editora Noz. O romance de estreia da escritora tem um estilo muito característico, que foi defendido até a sua publicação.

A Aline chegou a receber uma proposta de outra editora para publicar sua obra adaptando a narrativa para uma escrita mais convencional, já que as quebras entre linhas e parágrafos poderiam fazer com o que a obra fosse confundida com um livro de poesia. O que, aliás, para mim, seria tão bom quanto um romance, porque eu também adoro ler poesia.

Voltando ao livro, Aline manteve sua escrita meio entrecortada, o que tornou a obra ainda mais única. A escrita da Aline conversa muito com o leitor e a gente logo cria uma grande afeição pela protagonista: uma mulher, cheia de experiências, dores e perdas. A gente acompanha a trajetória dessa mulher dos 8 aos 52 anos e entende como cada pequeno acontecimento é essencial para transformar sua vida, determinar os caminhos que ela percorre e a personalidade que ela desenvolve ao longo da sua trajetória.

Força e estilo próprio das escritoras brasileiras


O livro é lindo e foi indicado ao Prêmio São Paulo no seu ano de lançamento, em 2018. O peso do pássaro Morto, chamado carinhosamente pela Aline de “O pássaro” tem uma escrita que nos transporta com muita facilidade para dentro daquela história. O pássaro tem feito muito sucesso, ganhando grande repercussão nas redes sociais. E não poderia deixar de ser, já que a história permite que leitores e leitoras de diferentes de idade criem uma identificação muito forte e próxima.

Ele é muito leve, sutil e ao mesmo tempo trata de temas pesados e extremamente dolorosos. Eu não tinha vontade de chorar quando chego ao fim de um livro há muito tempo [Eu sou meio durona para chorar em filmes e livros]. Mas nesse, eu tive com certeza. Então, leiam!

Jarid Arrais

Continuando as dicas de mulheres incríveis, eu quero falar também da Jarid Arraes. Ela é escritora, poeta e cordelista. É autora dos livros As lendas de Dandara, Heroínas negras Brasileiras em 15 cordéis, Um buraco com meu nome e Redemoinho em dia quente, publicado pela editora Afaguara. Esse último eu li recentemente e me senti extremamente envolvida com a história de cada conto. A ideia da autora era criar um livro de contos sobre mulheres brasileiras que não se encaixam em padrões e desafiam expectativas.

A gente nota que as histórias foram escritas pelo olhar de uma mulher que conhece de perto aquelas trajetórias. A narrativa é muito cotidiana e mistura um pouco de realismo, ficção e crítica social. A escritora nasceu em Juazeiro do Norte e é possível experimentar muito de suas vivências através das personagens. Jarid mostra o quanto as escritoras brasileiras contemporâneas tem a dizer. Ela narra realidades cheias de força e quase invisíveis aos olhos acostumados a ler sempre as mesmas histórias.

O livro mostra senhoras católicas, jovens religiosas com namorados extremamente ciumentos e outras situação cotidianas facilmente reconhecíveis por mulheres brasileiras.  Ao longo do livro, encontramos histórias de mulheres jovens, velhas, negras, pobres, bissexuais. É um retrato muito rico dessas narrativas que ficam, na maioria das vezes, escondidas.

Além disso, a Jarid criou em São Paulo o Clube de Escrita para Mulheres em 2015. A ideia dela é encorajar mais mulheres e escritoras brasileiras a colocarem em prática seu desejo de escrita. [Clube, aliás, que eu comecei a frequentar depois que me mudei aqui para São Paulo e tem uma troca deliciosa entre as mulheres, que falam de suas histórias, compartilham experiências e leituras, além de escrever um bocado].

Natália Borges Polesso

Outro livro de uma autora brasileira incrível que eu li recentemente foi Amora, da Natália Borges Polesso. A escritora é gaúcha, representando outra região diferente desse país tão grande. Amora é um livro sobre o amor entre mulheres. Com contos que giram em torno de relacionamentos lésbicos sem nenhum pudor. Com ele, a Natália ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de contos em 2016.

Como os outros dois livros que eu falei hoje, Amora tem uma narrativa simples, gostosa de ler, criando uma proximidade grande com o leitor. Ao longo da obra, a escritora passeia por diferentes estilos e hora nós lemos um conto mais realista, hora lemos textos mais abstratos. Essa diversidade narrativa é ótima, tornando o livro ainda mais rico e interessante de ler. Em entrevistas, Natália fez questão de deixar claro que ser homossexual não é o ponto principal do livro, pois nele são escritas histórias sobre pessoas. É linda a identificação que criamos com cada uma delas.

As mulheres são jovens e velhas, vivendo histórias que passam pelo preconceito, ciúmes, término, envelhecimento, amor, traição. O livro é dividido em duas partes. A primeira, Grandes e sumarentas, com textos grandes e cheios de lirismo e humor. A segunda, Pequenas e Ácidas, é formada por textos curtos em um tom muito pessoal. Novamente, vale muito à pena a leitura.

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