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Foto do escritorIsabella de Andrade

Cinthia Kriemler mostra a força literária das escritoras de Brasília

Cinthia Kriemler é carioca, mas figura entre a lista de escritores que escolheu Brasília para viver e dar vida à produção criativa. Em 2018, a autora foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Estreante com mais de 40 anos, com o primoroso Todos os abismos convidam para um mergulho, da Editora Patuá. Dona de histórias fortes, Cinthia não é de meias palavras e não foge de mostrar, na literatura, um pouco dos abismos internos que habitam o peito. Em 2017, a escritora organizou, em Brasília, uma potente coletânea de contos escritos por mulheres do Distrito Federal. Marcando, enfim, a produção literária feita por elas na capital.

Sobre a coletânea, a autora lembra: “A temática logo me interessou: a problematização do universo feminino.  Era um desafio. Eu adoro desafios. Aparentemente, parece muito fácil reunir escritoras e pedir a elas que escrevam um conto. Mas não era apenas isso que a editora queria. Nem eu. Eu não queria o lugar-comum. Nenhum clichê feminino de que as mulheres escrevem sobre o amor que dá certo, sobre coisas doces, sobre família, sobre viagens e amenidades”.

Coletânea: Novena para pecar em Paz


Cinthia Kriemler lembra que, afinal, não há problema algum em escrever sobre o amor, mas, naquele momento, o desejo era mostrar outras perspectivas. Logo depois, a ideia era trabalhar o universo feminino pelo viés de realidades sucateadas, desprezadas, propositadamente ignoradas. Para ela, faltava, em Brasília, quem falasse de mulheres que sofrem perdas, de mulheres que não se submetem, de mulheres cis, trans, homossexuais, de mulheres que se separam, de mulheres que passam por abusos sexuais, por abusos morais, por violência doméstica, de mulheres que começam a se prostituir ainda meninas, de mulheres que se reerguem sozinhas.

Diferentes iniciativas

“Por fim, deu certo. Nossa antologia, Novena para pecar paz, saiu bem assim, com essa cara de realidade. Para todas as autoras foi passada a recomendação: dedo na ferida. E aconteceu. A força é uma beleza bruta e incontestável. A força de nove mulheres, então, é de arrepiar”, destaca.

Em relação ao trabalho literário feito por mulheres, Cinthia Kriemler lembra que esse espaço de criação se fortalece. Propostas como o Mulherio das Letras, capitaneada pela escritora Maria Valéria Rezende que congregou, enfim, mais de cinco mil escritoras brasileiras de todo o país e do exterior num espaço de trocas na internet, além de encontros presenciais, provam que esse cenário de desamparo está mudando.

Cinthia é adepta da literatura que contempla as realidades. Seja em prosa seja em verso. Logo, não se trata de gênero literário, nem do estilo de cada escritor/escritora. Mas de conteúdo. Para ela, quando uma escritora fala de violência doméstica, de abuso sexual, de abandono, de racismo, de homofobia, de política ou de qualquer outro tema nesse sentido, ela está convocando cada leitor a refletir e a participar de uma mudança que precisa ser ampla. Ela está dizendo, por fim: repense seu preconceito, sua indiferença, sua intolerância. É uma convocação à cumplicidade, um convite à compaixão

“A produção cultural e criativa é, por si só, um espaço igualitário. E um convite a esse espaço”.
 

Cinthia Kriemler – Duas perguntas

Livro: Todos os abismos convidam para um mergulho


Você busca produzir e criar projetos que mostrem e incentivem a criação de outras mulheres?

Sim, com certeza. Triste da mulher que ainda não percebeu que nós, escritoras, somos mais fortes juntas. E se temos que enfrentar um mundo masculino, se temos que passar pelo machismo até na literatura, melhor fazermos isso juntos. Temos a obrigação de mostrar o trabalho umas das outras. Temos a obrigação de descobrir e estimular novas escritoras.

Essa produção cultural mais forte, liderada por mulheres, colabora com a força e autoestima delas na sociedade? 

Cada vez mais escuto relatos de escritoras que recebem e-mails e mensagens de leitoras dizendo que se identificaram e se sensibilizaram com o que essas mulheres escrevem. Dizendo que se sentiram fortes, capazes de caminhar, de se reerguer, de dar novos rumos as suas vidas.

Isso não é pouco. Nenhuma de nós está escrevendo autoajuda. Estamos falando das realidades nas quais essas mulheres estão inseridas. E quando conseguimos mostrar a elas que é possível se rebelar, mudar, recriar caminhos. Escapar da violência, não ser violentada, ser respeitada, pensar diferente e que pensar diferente é desejável para as sociedades que evoluem. Nós estamos estendendo as nossas mãos para resgatar uma de nós, uma mulher.

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