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Foto do escritorIsabella de Andrade

Carina Bacelar e algumas tantas Despedidas

O livro da Carina é uma surpresa tão grata, ainda mais quando sabemos que a publicação foi toda independente, com cada detalhe e cada etapa pensada pela autora, mostrando o quanto é importante (e satisfatório) abrir essas primeiras portas. Carina Bacelar faz um mergulho de imagens criadas com facilidade no cotidiano e enxergo paisagens de cidades que se transformam pelo olhar de quem experimenta caminhar a pé pelas ruas e pelo corpo que senta na praia e descobre um tanto mais da própria presença através da ausência que enxerga no outro.




E a leitura se mistura um pouco na percepção de que poderiam ser histórias de mulheres diferentes e ausências tão internas e tanta gente e também histórias que se conectam e poderiam ser todas da mesma mulher. Essa percepção ficou ainda mais clara depois de ver Carina me falar sobre o livro, quando diz que a ideia inicial era ser um livro de contos, mas logo depois a percepção foi de que a voz que contava aquelas histórias era a mesma, com os mesmos medos e questões.


“Era a mesma pessoa e, ao mesmo tempo, não era. Quando tive esse estalo, comecei a perceber que outras histórias orbitavam a vida dessa personagem, e comecei a escrevê-las, já pensando em um livro, em um todo. Mas acho que o livro só se tornou livro mesmo na reescrita, quando aparei algumas arestas e pensei em unidades, em repetições, em padrões”, destaca Carina.



A leitura me leva um tanto a esse lugar de começar, finalizar e saber deixar vir a partida, saber deixar o corpo ir e talvez a vida seja um tanto disso, aprender a entender onde é o início, o impulso, o meio e o fim das coisas. A escrita da Carina e fluida e parece levar a gente num mergulho feito água, tateando hora pela beirinha da praia, com os pés molhados, mas ainda pisando na areia e hora com o corpo inteiro submerso, quando o respiro para a partida é ainda maior.


Fiz algumas perguntas pra ela contar mais do livro pra gente e a entrevista tá lá no site do @elasnaescrita. Vale dar uma conferida.


 


CONFIRA A ENTREVISTA:


Pode me contar um pouquinho sobre como foi o processo de escrita do seu livro? Você se organiza? Acontece de forma mais solta?


O processo de escrita de As despedidas foi bem particular. Foi meu primeiro livro, eu tive 28 anos pra escrevê-lo. Ele partiu de um lugar que antecede o lugar de escritora. Escrevi o livro antes de começar a conhecer pessoas da área, antes de publicar em revistas, antes de me considerar escritora. Foi ele que me empurrou pra todo o resto nesse sentido. A escrita em si tinha uma espontaneidade que não sei se um dia vou conseguir reproduzir. Comecei pelo primeiro conto, achando que seria só um conto, jamais um livro. Depois veio outro, o terceiro.


Percebi, depois, que a voz que contava essas histórias era a mesma: tinha os mesmos medos, as mesmas questões. Só que diferentes, mais ou menos amadurecidas. Era a mesma pessoa e, ao mesmo tempo, não era. Quando tive esse estalo, comecei a perceber que outras histórias orbitavam a vida dessa personagem, e comecei a escrevê-las, já pensando em um livro, em um todo. Mas acho que o livro só se tornou livro mesmo na reescrita, quando aparei algumas arestas e pensei em unidades, em repetições, em padrões. Nesse sentido, ela tomou bem mais tempo que a primeira versão, que foi super rápida (escrevi em três meses).


Como você busca a tal inspiração para a escrever?


Não sei exatamente se eu busco. Acho que a fagulha, o clarão que revela uma possibilidade de narrar, de algo que me afeta de alguma forma, vem de vivências, conversas, músicas, livros. De estar no mundo. Isso eu tenho com relativa facilidade, as ideias me atingem. A minha maior dificuldade é manter essa chama acesa, não colocá-la em conflito com outras coisas ou desprezá-la até que se apague. Nesse sentido, o melhor caminho é estudar. Contar sobre seu projeto pra outras pessoas ajuda também, faz parecer que ele é uma realidade, de alguma forma.


E, para quem está começando e quer saber o que fazer com o livro depois de escrito, me conta um pouco sobre como foi o seu caminho para a publicação?


Esse livro nasceu independente. É algo que meti na minha cabeça não sei ao certo como, mas em que insisti. Não mandei o original pra nenhuma editora, nem pensei que alguma aceitaria. Eu trabalhei em dois empregos (PJ) por um mês pra bancar os custos dos profissionais que participaram do livro, além da impressão. E fui coordenando esse projeto como uma espécie de editora mesmo: escolhi a preparadora de texto, brifei a ilustração da capa, procurei uma diagramadora, uma revisora. No final, foi uma loucura gigante, mas acho que funcionou.


Você costuma trabalhar a divulgação do seu livro por conta própria? Como é esse processo pra você e como ele tem ajudado o seu livro a circular?


Adoraria ter ajuda profissional, mas conto só com amigos, amigas, leitores, com todo mundo que leu e gostou do livro e quer passar a palavra adiante. Muita gente me abriu as portas também: revistas literárias, escritores (um abraço especial pra Aline Bei aqui) e pessoas do mercado que foram generosas. Pra mim, era inevitável, principalmente no primeiro ano, fazer tudo o que eu podia pelo livro. Enviá-lo pra produtores de conteúdo, repostar leituras, divulgá-lo nas minhas redes. Agora acho que estou em um momento mais tranquilo, em que o livro não é mais um bebê que precisa de cuidados. O caminho que ele vai seguir, de agora em diante, depende muito mais dele que de mim.



Um trecho para definir o livro, escolhido pela autora:


Pergunta difícil! Mas eu acho que seria essa aqui. "É quando a encontro no fundo do oceano, e esse foi o encontro que a fez afundar, mergulho-pergunta atrás de resposta. E então, provo que sim, a resposta é sim, eu estou também no mar, com ela, ela está também a salvo, comigo, em outro lugar, porque eu venho desse outro lugar para dar a ela a mão e puxá-la para cima, levá-la adiante, ela sente as águas no rosto como o vento-aventura do centro vazio de uma cidade, da nossa cidade, o carinho do movimento na pele".

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