Ana Paula Maia mostra potência literária no melhor livro eleito pelo Prêmio São Paulo
O livro de Ana Paula Maia chegou em minhas mãos em 2017. Veio por acaso, enviado pela editora. Tive o prazer de ser apresentada à autora, que escreve com a crueza necessária para que possamos entender os dias de quem permanece entregue à própria sorte. Vencedora do Prêmio São Paulo de literatura em 2018, na categoria melhor livro, a obra Assim na terra como embaixo da terra cria uma narrativa cruel entre páginas cuidadosamente bem escritas. Por fim, o mergulho é inevitável.
A autora Ana Paula Maia (Foto: Marcelo Correa)
Em pouco tempo o leitor submerge na trajetória seca e cotidiana da Colônia. A prisão recebe e abriga detentos que são retirados da sociedade de maneira definitiva. Ninguém conhece histórias de fugas ou absolvições relacionadas ao local. A terra que abriga a construção de seu terreno é conhecida, enfim, como amaldiçoada. No passado, o local foi uma fazenda que abrigava muitos escravos assassinados. Ana Paula Maia reúne dois ambientes cruéis nas terras que habitam suas páginas: a aldeia isolada e a fazenda escravocrata.
No livro, Ana Paula Maia nos coloca frente a frente com o cotidiano de cada presidiário. São personagens humanizados, ricos em trajetória e desenvolvimento psicológico. Cada detendo planeja sua própria maneira de escapar e convive com a selvageria de Melquíades, o responsável pelo local. Os presos são caçados por diversão e cada morte serve como um aviso cronometrado para a próxima. Enfim são seres transformados por uma realidade cruel.
A potência da escrita de Ana Paula Maia
Na terra seca e escassa, um quarteto restante se reúne diariamente durante horas a fio para desenvolver planos de fuga. Ansiedade, medo, derrota, raiva e desilusão se misturam de maneira ácida. Enquanto aguardam pela demorada visita de um oficial enviado para inspecionar o local, os detentos calculam quanto tempo de vida lhes resta. O isolamento da colônia alimenta a sensação de abandono. Não há cidades ou habitantes ao seu redor.
Entre as páginas, Ana Paula conta os últimos dias de uma colônia penal que está prestes a ser desativada. Acompanhamos a potência psicológica e humana de seus últimos habitantes. Ao longo do livro, é possível sentir a terra seca e o clima de isolamento. Há um vazio que habita na construção de cada personagem. A autora mostra uma escrita crua, potente. O livro mostra mais uma face da força contemporânea da literatura produzida por mulheres e nos orgulha ao se consagrar com um dos prêmios mais importantes do país.
Sinopse – Assim na terra como embaixo da terra
Uma colônia penal isolada – um terreno com um histórico tenebroso de assassinato e tortura de escravos –, construída para ser um modelo de detenção do qual preso nenhum fugiria, torna-se campo de extermínio. Espécie de capitão do mato/carcereiro, Melquíades é o algoz dos presos, caçando e matando-os como animais, apenas por satisfação pessoal. Os presos, cada qual com sua história, estão sempre planejando a própria fuga, sem saber se vão acabar mortos pelos guardas ou pelo que os espera do lado de fora da Colônia.
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