Pés
Andei então com os olhos vendados, certa, plenamente certa, de que todo e qualquer caminho seria suficientemente estável para a estabilidade instável que buscavam meus pés. Distraída pelo barulho em excesso que se propaga quando fechamos os olhos, perdi a direção encomendada pelos meus próprios anseios. Deixei de reconhecer o chão, não havia dureza suficiente nas carnes macias dos pés antes acostumados ao caminho previamente limpo, calçado, almofadado. Retirei a venda dos olhos e reconheci o estado de suspiro suspenso que nos paira como na primeira vez em que olhamos para o que seria um grande amor. Suspenso. Pela certeza prévia de que não seria possível prosseguir. Corri e mergulhei no rio mais próximo que me foi possível encontrar entre o espaço irreconhecível. Na água as sensações são plenas, assim como é pleno o silêncio. Deixei-me permanecer imersa e maleável dentro do próprio rio enquanto buscava outra vez meter os pés em qualquer terra que me preenchesse de pertencimento. É parte do caminho descansar os pés na correnteza das águas.
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